PLURAL: fome de quê? De comida e de educação

Redação do Diário

A coluna Plural desta segunda-feira (20) traz texto sobre o tema Educação. Os textos da Plural são publicados diariamente na edição impressa do Diário de Santa Maria. A Plural conta com 24 colunistas.

Valdo BarcelosProfessor e escritor-UFSM

1º Ato – Fome

Josué Apolônio de Castro, quase desconhecido da intelectualidade brasileira e reconhecido internacionalmente por Josué de Castro (1908-1973) é autor do livro clássico intitulado Geografia da Fome (1959). Josué de Castro foi pioneiro nos estudos e pesquisas sobre o fenômeno da fome endêmica no Brasil. Escreveu que, enquanto a metade da população brasileira não dormia de fome a outra metade não dormia de medo daquela que estava com fome. Assim que me causa enorme estranheza, para ser educado, quando vejo tantos intelectuais, políticos e mesmo alguns colegas ficarem escandalizados(as) com as notícias sobre a fome no Brasil nos tempos atuais. Com certeza que estamos vivendo um momento de agravamento da pobreza extrema no Brasil. Afinal, as pesquisas têm mostrado que cerca de 30 milhões de pessoas estão, literalmente, passando fome.

Fico me perguntando: mas em que diacho de país eles viveram até agora? Não saem mais de casa? Não andam nas ruas? Será que continuam acreditando que vão poder viver eternamente isolados do mundo real, do Brasil real, em seus condomínios fechados e nos ambientes climatizados dos shopping centers passeando “seguros” com seus “pets”? Será que estamos perdendo, definitivamente, a capacidade de nos indignar com o sofrimento, com miséria, com a violência, com o abandono de um contingente tão grande de pessoas desse Brasil varonil?

2º Ato – Educação

O cacique Galdino Pataxó foi assassinado, durante a noite do dia 20/04/1997, por um grupo de quatro jovens de classe média alta, enquanto dormia em um ponto de ônibus na capital federal do Brasil. Na delegacia, ao serem interrogados pelo crime cometido, um dos jovens falou candidamente que “não sabiam que era um índio, pensavam que era apenas um mendigo, e que estavam apenas querendo se divertir um pouco”.

3º Ato – Educar e amar

Ao ser indagado sobre como via o assassinato de Galdino, Paulo Freire (1921-1997) respondeu algo do tipo: coisa estranha, brincar de matar índio. Fico a pensar aqui, mergulhado no abismo de uma profunda perplexidade, espantado diante da perversidade intolerável desses moços se desgentificando, no ambiente em que decresceram em lugar de crescer. Não creio na amorosidade entre os seres humanos, se não nos formos capazes de amar o mundo. Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Não é possível refazer este país, democratizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Educar é amar. Educar é alimentar o espírito e o corpo, ou, não é educar.

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